Exército egípcio anuncia a deposição de Mursi (Foto: Reprodução/Al Jazira)

Cada vez eu entendo menos esse mundo: Teve revolução no Egito? De novo?
Está meio confuso ainda mesmo. Vou dizer o que se sabe: o presidente Mursi foi deposto pelo exército do Egito e suspendeu a Constituição, que entrou em vigor no ano passado.

Mas péra: Eles já não tinham derrubado um presidente?
Sim, em 2011, o Mubarak. Mas ele estava mais pra ditador, né? Ficou trinta anos no poder. Foi no meio do que o pessoal chamou de “Primavera Árabe”.

E derrubaram mais um? Ele era ditador também?
Não, ele não era ditador, mas ele tomou medidas que eram vistas como antidemocráticas. Durante o seu governo foi aprovada uma nova Constituição (a que está suspensa agora) quer era vista como ligada demais à religião muçulmana.

Mas o Egito não é um país muçulmano?
Sim, tem muitas pessoas dessa religião lá, mas a gente precisa entender que o islamismo não é uma coisa só. Existem várias correntes, mais ortodoxas ou menos ortodoxas. E também há cristãos. O ex-presidente Mursi se aliou a um grupo chamado Irmandade Muçulmana, que acha que o Estado egípcio deveria seguir os preceitos da religião islâmica. E há muita gente que é contra isso, incluindo os próprios muçulmanos.

Entendi… Eu vi que está rolando uma discussão pra saber se foi golpe ou não. Foi golpe?
Essa é uma questão muito complicada. Quem diz que foi golpe, usa o argumento de que o Mursi foi eleito democraticamente, assim como o Congresso que aprovou a tal Constituição. Para essas pessoas, ele deveria ter sido removido do cargo usando os meios legais, ou seja, com um impeachment. Mas não foi o que aconteceu: o exército forçou a saída do Mursi e declarou a Constituição suspensa. Ou seja, ele foi tirado à força. Quem acha que não foi, diz que as ações do ex-presidente já eram antidemocráticas e que não havia outro jeito de resolver a situação. A “voz das ruas” tem que ser ouvida e foi isso que aconteceu, segundo essa interpretação.

Olha, vou ser sincero: não foi assim que aconteceu o golpe aqui no Brasil, em 1964?
Também vou ser sincero: comparar situações tão diferentes, em países tão diferentes em épocas tão diferentes é sempre arriscado. O exército de lá diz que vai só cuidar da “transição” para uma nova democracia. Por isso, nomeou o presidente da corte suprema do Egito como o líder enquanto o país não volta ao normal. Mas sempre se corre o risco de a coisa descambar para a ditadura, porque agora não há mais leis, entende? Vamos torcer para que tudo corra do melhor jeito.

Ah, mas larga mão de ser medroso, pô! O exército só ajudou a tirar esse cara do poder. Você mesmo disse que ele estava sendo antidemocrático.
Sim, mas essa é uma situação muito perigosa, como eu disse. Pense no seguinte: e se o próximo presidente eleito desagradar a uma parcela da população egípcia que é a favor de, sei lá, uma nova ditadura? E se o povo resolve ir às ruas para pedir uma ditadura? A “voz das ruas” deve ser ouvida? Depor o presidente desse jeito abre espaço para que isso aconteça. Mas, claro, isso é só uma especulação. Em resumo: é sempre mais seguro que as coisas se resolvam usando as instituições da democracia. Como foi no caso do Collor, em 1992, lembra? Ele foi tirado do poder sem afetar nenhuma outra instituição, sem suspender Constituição…

Saiba mais:
Carta Capital
G1
Business Insider (em inglês)

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  • Luanda Pereira disse:

    O que pouca gente sabe por aqui, é que lá o exército é visto pela população como heróis. Eles aprendem no colégio que eles devem a atualidade e o futuro à eles, devido às conquistas em campos de batalha. Então quando o exército tirou o Morsi do poder foi com apoio da poupulação (os não pertencentes à irmandade mulçumana, claro).

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