Diogo Antonio Rodriguez, editor do Me Explica?

Estamos cada vez mais conectados, não é verdade? Com o uso disseminado de telefones celulares capazes de se conectar rapidamente à internet, passamos mais tempo lendo notícias, vistando sites e, claro, usando redes sociais. O Facebook é a principal delas. No Brasil, são mais de 89 milhões de pessoas cadastradas (1,4 bilhão no mundo). Muita gente usa o “Face”, como é carinhosamente chamado, para falar com os amigos, se conectar com marcar e produtos e se divertir. E cada vez mais gente tem usado a rede social para se informar. Mas será que essa é uma boa ideia?

E porque não haveria de ser, você me pergunta? Afinal, todos os principais jornais, revistas, canais de TV, sites e até os jornalistas (e o Me Explica?, claro) têm páginas e centenas, às vezes milhares de fãs, de pessoas conectadas com o conteúdo produzido por essas empresas. Natural pensar que, se todos estão no Facebook postando matérias, fotos e conteúdos, que esse é o melhor lugar para ter acesso à informação.

O problema é que isso não é exatamente verdade. Muitos sites têm um sistema de filtros automáticos que analisam o tempo todo os hábitos de quem navega para tentar “adivinhar” do que aquela pessoa gosta. São os chamados algoritmos, fórmulas matemáticas que usam dados armazenados (páginas e textos que você curtiu, nas quais clicou, por exemplo) e filtram o seu “feed” para mostrar apenas as coisas das quais ele (o algoritmo) acha que você vai gostar.

Então você me pergunta de novo: e daí? Não é bom receber conteúdos “sob medida”? Depende. Pense no seguinte: se você nunca descobrir coisas novas, nunca mais vai se supreender. Ideia radical? Se você só tem amigos que gostam de rock, foi criado numa família que só escuta rock, só vai a lugares que tocam rock, nunca vai conhecer a música clássica. E nunca vai saber se gosta ou não dela. Agora, me diga, é melhor viver com a liberdade de escolher o que a gente gosta ou sem ela? Leve esse raciocínio para o mundo da política. E pense no algoritmo do Facebook.

Levando o caso ao extremo, pode ser que o seu “feed” do Facebook só esteja mostrando posts com os quais você concorda, com opiniões parecidas com as suas. Obviamente que isso vai te deixar muito seguro do que você pensa. Mas e outro lado? Como você vai conhecer uma opinião diferente da sua se tudo o que aparece na sua frente são coisas que você já pensa? Essa é uma ideia assustadora, principalmente para a política.

Sim, porque fazer política é chegar a acordos, é ouvir diversas opiniões, a favor e contra, é discutir e conversar. Quando passamos a viver em um mundo controlado por mecanismos que querem apenas nos agradar, podemos estar a caminho do isolamento e da surdez. Nossas vidas serão menos ricas e tomar decisões boas para todos será cada vez mais difícil. Respondendo à pergunta do título do texto: não, o Facebook não é a melhor fonte. Ele é sem dúvida útil, mas não pode ser o único lugar onde você busca notícias, artigos e informação. Então o Google é a solução? Também não, e pelo mesmo motivo: ele também tem seus algoritmos, que filtram os resultados de suas buscas de acordo com os sites que você visita, onde compra, sua localização…

O ideal é não confiar 100% em nenhum deles e sempre buscar muitas versões para a mesma história (como tentamos fazer aqui no Me Explica? quando recomendamos leituras no final dos textos). E nunca podemos nos esquecer de uma tecnologia antiga, porém muito poderosa: os livros. Eles nunca deixarão de ser uma ótima fonte de informação.

Saiba mais sobre o assunto:
“Precisamos falar dos algoritmos”, de Ronaldo Lemos.
Usuários transformam seus murais no Facebook em ‘bolhas’ ideológicas (El País)

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