No dia 18 de novembro de 2025, o Banco Central fechou o Banco Master. Na mesma data, a Polícia Federal prendeu o dono da instituição, Daniel Vorcaro, e mais cinco executivos.
As investigações apontam para fraudes que podem chegar entre R$ 12 bilhões e R$ 17 bilhões. É o maior escândalo financeiro dos últimos anos no Brasil — e vai colocar à prova o sistema que protege seu dinheiro quando um banco quebra.
A liquidação afetou 1,6 milhão de clientes (entre pessoas físicas e empresas) que tinham investimentos no banco. Além disso, 515 trabalhadores do Master correm risco de perder seus empregos. O sindicato dos bancários estima que até 12,4 milhões de clientes possam ser impactados considerando todas as operações do conglomerado.
Vamos entender o que aconteceu, quem está envolvido, se o seu dinheiro está seguro e quais são as conexões políticas desse caso.
🚨 Afinal, o que aconteceu?
A história começa em fevereiro de 2025, quando o Banco Central desconfiou de uma operação estranha: o Banco Master tinha vendido R$ 12,2 bilhões em carteiras de crédito para o Banco de Brasília (BRB), um banco público do Distrito Federal.
Esse valor representava algo entre 20% e 30% de toda a carteira de crédito do BRB. Era muita coisa. O Banco Central resolveu investigar a fundo e descobriu algo chocante: essas carteiras de crédito eram falsas. Não havia dinheiro real por trás delas.
Era como se o Master estivesse vendendo contratos de empréstimos que nunca existiram. Pior: a KPMG, uma das maiores auditorias do mundo, já vinha chamando atenção em 2024 para a dificuldade de avaliar alguns ativos do banco, como fundos de crédito, direitos creditórios e precatórios — um sinal de alerta que hoje parece ainda mais grave.
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O esquema completo
A Polícia Federal descobriu que o esquema funcionava assim:
- O Banco Master criava carteiras de crédito falsas (basicamente, inventava empréstimos que não existiam)
- Vendia essas carteiras para outros bancos, especialmente o BRB, como se fossem reais
- Quando o Banco Central perguntava sobre essas operações, o Master trocava esses ativos falsos por outros, também sem avaliação técnica adequada
- Com esse dinheiro que entrava, o banco pagava juros altíssimos para atrair mais investidores: até 140% do CDI (a taxa básica do mercado)
No total, o Master chegou a emitir cerca de R$ 50 bilhões em investimentos (CDBs). As investigações apontam que, para tentar sustentar esse esquema, o banco negociou cerca de R$ 12 bilhões em carteiras de crédito consideradas inexistentes pelo Banco Central e pela PF.
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A tentativa de esconder a fraude

Quando o Banco Central começou a investigação em fevereiro, o Master tentou uma jogada desesperada: anunciou em março que seria comprado pelo Banco de Brasília.
Segundo investigadores, essa compra era uma tentativa de esconder a fraude. “Era uma forma de juntar os balanços dos dois bancos e esconder as fraudes do Banco Central”, explicou um investigador.
O Banco Central só negou a operação em setembro, quando as investigações da Polícia Federal já estavam avançadas. Em novembro, veio a prisão dos executivos na Operação Compliance Zero.
👤 Quem é o dono do banco?
Daniel Bueno Vorcaro, de 42 anos, é o dono do Banco Master.
Formado em economia, Vorcaro comprou o banco em 2018. Além dele, foram presos mais cinco executivos — inclusive o diretor que deveria justamente garantir que tudo funcionasse dentro da lei.
Vorcaro foi solto no final de novembro com tornozeleira eletrônica e está proibido de trabalhar com qualquer coisa relacionada a bancos ou investimentos.
💸 E quem tinha dinheiro investido no Master?
Aqui a situação se divide em dois cenários bem diferentes:
✅ Se você tinha até R$ 250 mil investidos
Você deve receber seu dinheiro de volta. Existe um fundo chamado Fundo Garantidor de Créditos (FGC) que funciona como um seguro: quando um banco quebra, ele devolve o dinheiro dos clientes.
Cada pessoa vai receber de volta o que investiu mais os juros até 18 de novembro, respeitando:
- Limite de R$ 250 mil por pessoa em cada banco
- Teto máximo de R$ 1 milhão a cada quatro anos (somando todos os bancos que possam ter quebrado nesse período)
O FGC vai ter que desembolsar cerca de R$ 41 bilhões para cobrir os investidores do Master. Nunca aconteceu algo dessa magnitude no Brasil.
⚠️ Se você tinha mais de R$ 250 mil investidos
Aí a situação complica bastante. Não há garantia imediata.
Quem investiu acima desse limite vai receber R$ 250 mil pelo FGC e o restante só virá (se vier) depois que o banco vender tudo o que tem — imóveis, equipamentos, etc. — e pagar os credores. Esse processo pode levar anos.
Na prática, quem tinha muito dinheiro no Master pode perder boa parte da grana ou esperar muito tempo para ver algum dinheiro de volta.
📱 Como solicitar o ressarcimento do FGC?
Atenção: O ressarcimento não é automático. Você precisa fazer a solicitação, mas ainda não pode porque o processo ainda não foi liberado.
Primeiro, o liquidante nomeado pelo Banco Central precisa validar a lista completa de credores — esse processo costuma levar cerca de 30 dias em casos recentes, podendo chegar a 60 dias em situações mais complexas como essa. O presidente do FGC disse que pretende realizar os pagamentos ainda em 2025, mas o prazo está apertado.
Para pessoas físicas (CPF):
1. Baixe o aplicativo do FGC
Está disponível para Android e iOS. Procure por “FGC” na loja de aplicativos.
2. Faça seu cadastro
Você vai precisar informar: nome completo, CPF, data de nascimento e documentos pessoais.
3. Cadastre uma conta bancária
Importante: a conta precisa estar no mesmo CPF (não pode ser conta conjunta ou de outra pessoa).
4. Aguarde a liberação
A opção “Solicitar pagamento” só vai aparecer no app depois que o liquidante validar a base de credores. Fique de olho no aplicativo.
5. Solicite o pagamento
Quando a opção estiver disponível, solicite e finalize com assinatura digital.
6. Aguarde a transferência
O dinheiro será depositado na conta que você cadastrou.
Para empresas (CNPJ):
Empresas não usam o aplicativo. O processo é feito pelo Portal do Investidor do FGC.
O representante legal da empresa acessa o portal, preenche as informações da empresa e aguarda validação por e-mail. Após aprovação, o pagamento é feito em conta corrente ou poupança do mesmo CNPJ.
🏢 Grandes empresas também perderam dinheiro

Não foram só pessoas físicas que caíram no golpe. Grandes empresas brasileiras também investiram no Banco Master — e agora estão no prejuízo:
Oncoclínicas (rede de clínicas de oncologia): tinha R$ 433 milhões aplicados e já provisionou a perda de cerca de metade desse valor. O restante ainda está sendo avaliado. Como o limite do FGC é de apenas R$ 250 mil por CNPJ por instituição, a maior parte dessa exposição não é coberta pelo fundo. Ou seja, a empresa pode perder quase tudo.
Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia de São Paulo): tinha investimentos que representavam 5,9% de todos os seus ativos.
Cedae (empresa de água e esgoto do Rio de Janeiro): confirmou que também tinha dinheiro no Master, mas não revelou quanto.
Rioprevidência (fundo de pensão do Rio de Janeiro): tem cerca de R$ 960 milhões em papéis do Banco Master.
Além disso, a quebra do banco afetou 58 fundos de investimento que somam R$ 3,9 bilhões. Esses fundos tinham o Master como administrador ou como fornecedor de créditos.
🏛️ E a política, onde entra nisso?
O caso tem ligações políticas de vários lados, mas não há provas de que o governo federal estava envolvido na fraude.
O que a oposição diz:
Aponta ligações do Master com políticos do PT da Bahia, especialmente com o senador Jaques Wagner. Um dos sócios do banco ajudou a estruturar empréstimos consignados (aqueles descontados direto do salário) para funcionários públicos da Bahia através da compra da rede Cesta do Povo e criação do cartão Credcesta.
O que aliados do governo dizem:
Apontam que o senador Ciro Nogueira (PP-PI), da oposição, apresentou uma emenda que aumentaria de R$ 250 mil para R$ 1 milhão o limite de proteção do fundo garantidor. Essa proposta foi apelidada na imprensa de “emenda Master”, justamente por potencialmente beneficiar quem tinha muito dinheiro investido no banco.
O caso do BRB
A tentativa de compra do Master pelo Banco de Brasília (BRB) também levanta questões políticas. O BRB é um banco público, controlado pelo governo do Distrito Federal. Como um banco público quase comprou uma instituição que estava cometendo fraudes bilionárias?
A Polícia Federal está investigando se houve envolvimento de parlamentares no caso. As investigações continuam.
Resumindo: tem político de vários lados com alguma ligação ao caso, mas ainda não dá para cravar culpados.
🔍 E agora, o que vai acontecer?
O Ministério Público Federal está tentando prender Vorcaro e os executivos de novo. O ministro do STF Dias Toffoli determinou sigilo máximo sobre parte do processo, após a defesa alegar que o caso deveria subir para a Corte por envolver parlamentar com foro privilegiado.
Enquanto isso, o fundo garantidor está se organizando para devolver o dinheiro de quem tinha até R$ 250 mil investidos. Mas ainda vai levar algum tempo até os pagamentos começarem.
Para quem tinha mais de R$ 250 mil, a espera será longa — e o resultado final é incerto.
✋ O que você pode aprender com isso?
Algumas lições importantes desse caso:
1. Desconfie de promessas de retorno muito alto
Se um banco ou investimento promete ganhos muito acima da média (como 140% do CDI), pode ser golpe. Nenhum banco sério consegue sustentar essas taxas. Se parece bom demais para ser verdade, provavelmente é.
2. Conheça o limite de proteção
O FGC protege até R$ 250 mil por CPF em cada banco. Se você tem mais que isso em um lugar só, está correndo risco.
3. Diversifique seus investimentos
Não coloque todo seu dinheiro em um único banco ou investimento. Espalhe entre diferentes instituições para reduzir o risco.
4. Pesquise antes de investir
Procure saber se o banco ou corretora tem boa reputação, se está regularizado no Banco Central, se há reclamações. Grandes empresas como a Oncoclínicas também caíram nesse golpe, o que mostra que até quem tem assessoria pode errar, mas você pode e deve fazer sua lição de casa.
5. Cuidado com bancos pequenos oferecendo taxas irreais
Bancos menores podem oferecer taxas um pouco melhores que os grandes, mas quando a diferença é muito grande, acenda o sinal de alerta.
6. Preste atenção nos alertas
A KPMG já vinha chamando atenção em 2024 para dificuldades na avaliação de ativos do Master. Quando uma auditoria séria levanta questões críticas, é um sinal de alerta.
7. Baixe o app do FGC agora
Mesmo que você não tenha dinheiro no Master, é bom já deixar o aplicativo instalado e fazer o cadastro. Se algum dia você precisar, já está tudo pronto.
📚 Quer saber mais?
- Agência Brasil – Saiba como resgatar dinheiro investido no Banco Master
- G1 – Como ser ressarcido pelo FGC
- CNN Brasil – Caso Banco Master: saiba como resgatar dinheiro investido
- Veja – Gerentes demitidos da Caixa Asset livraram Lula do escândalo do Banco Master
- Bloomberg Línea – Colapso do Banco Master expõe perdas de empresas
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