Foto: Orlando Kissner/ Fotos Públicas
Por José Rodrigo Rodriguez
O Congresso Nacional pôs em votação recentemente uma série de projetos de lei de amplo apelo popular, por exemplo, a redução da maioridade penal e uma proposta de reforma política que inclui o voto distrital e o financiamento privado de campanhas.
Diante da crise do Governo Dilma, que alcançou esta semana sua pior taxa de aprovação nas pesquisas de opinião, e de mais uma série de investigações sobre corrupção, agora na Petrobrás, como compreender esta atitude do Congresso?
É interessante notar que boa parte dos projetos que estão sendo votados podem ser identificados como representativos de interesses de direita. Por exemplo, a elevação da maioridade penal e a aprovação de doações de empresas privadas para os partidos políticos com o objetivo de financiar campanhas eleitorais.
Não é fácil separar esquerda e direita no mundo de hoje. Mas em linhas gerais, podemos dizer que a esquerda está sempre preocupada com a igualdade entre as pessoas e por isso põe em primeiro plano a defesa da diversidade humana e a proteção estatal ao trabalhador, aos artistas, aos indígenas, aos gays, lésbicas e outros grupos sociais.
A direita, de outro lado, coloca em primeiro plano a liberdade e por esta razão privilegia a proteção à liberdade de mercado, às empresas e ao mérito dos indivíduos mais esforçados e capazes. Além disso, costuma-se classificar como de direita pautas de interesse dos grupos religiosos e conservadores, defensores da família, da ordem e de valores tradicionais.
Ao que tudo indica, essas forças políticas resolveram tentar captar a voz das ruas; resolveram tentar captar toda a indignação popular com a política atual, manifestada de forma inequívoca em junho de 2013
Ora, as forças políticas responsáveis por defender os projetos de lei a que me referi são identificadas com as bancadas ruralista e evangélica, ou seja, com a direita. Ao que tudo indica, essas forças políticas resolveram tentar captar a voz das ruas; resolveram tentar captar toda a indignação popular com a política atual, manifestada de forma inequívoca em junho de 2013.
De sua parte a esquerda, cujo partido mais importante ainda é o PT, está em uma verdadeira sinuca. Ela parece incapaz de voltar a disputar a preferência da sociedade, pois seu partido mais importante está acuado por investigações e críticas vindas de todos, preocupado em defender o atual governo do fracasso total, por exemplo, com o impeachment da Presidenta. De outro lado, não há partido hoje capaz de reconstruir a esquerda em novos termos.
Assim, em um quadro em que apenas a direita faz política de fato, ou seja, apenas a direita tenta captar os interesses do povo, parece natural que os temas liberais e conservadores ganhem mais e mais espaço.
Por esta razão, de nada adianta tentar conter esta verdadeira onda conservadora desqualificando suas lideranças, classificando suas opiniões como obscurantistas ou retrógradas. Em política um argumento tem sucesso efetivo se é eficaz, ou seja, se convence as pessoas e se traduz em votos.
Em um quadro político em que, repito, apenas a direita discute e argumenta de forma organizada e propositiva, é evidente que seus temas ganharão espaço. E a direita será capaz, com o tempo, de refazer todos os termos do jogo político atual, bolsa família, cotas e outras conquistas da esquerda, inclusive.
É evidente que há resistências a este movimento, principalmente na figura isolada de alguns parlamentares exemplares e isolados. Não parece estar à vista uma articulação de forças de esquerda capaz de conter o avanço da bancada de direita.
Algumas manobras realizadas no Congresso foram questionadas, como a votação do financiamento privado de campanhas após a rejeição do assunto no dia anterior. Mas seja como for, a direita hoje parece estar mais preocupada em compreender a voz das ruas ao procurar fazer o Congresso andar e votar projetos engavetados há décadas.
De nada adianta tentar conter esta verdadeira onda conservadora desqualificando suas lideranças, classificando suas opiniões como obscurantistas ou retrógradas. Em política um argumento tem sucesso efetivo se é eficaz, ou seja, se convence as pessoas e se traduz em votos
Este parece ser o prenúncio de uma hegemonia conservadora na sociedade e na política brasileira, que pode vir a se consolidar nos próximos anos. Para virar o jogo, será preciso voltar a fazer política no sentido da palavra, ou seja, voltar a tentar representar os interesses da sociedade.
Mas a esquerda só será capaz de fazer isso, desconfio, quando deixar o governo federal e quando o PT for capaz de se reinventar como partido ou perder o domínio do campo em favor de algum partido novo.
Enquanto isso, eu suspeito, mantidas as coisas como estão, os próximos anos serão marcados por vitórias política reiteradas das forças à direita.
Grande maioria analfabeto político (assim como a maioria da sociedade brasileira) e ignorantizadas pela TV e Facebook.