(Esse é o teto da Faculdade de Arquitetura da USP, um prédio muito bacana. Crédito: Wikimedia Commons)
Que história é essa?
Cotas! As universidades estaduais de São Paulo receberam uma proposta do governo do estado para reservar metade de suas vagas para estudantes de escolas públicas.
Quais universidades farão parte desse programa?
USP (Universidade de São Paulo), Unesp (Universidade Estadual de Paulista) e Unicamp (Universidade de Campinas).
E isso vai começar agora? Já? Dá tempo?
Sim, dá tempo. O governo propõe que isso comece gradualmente. Em 2014, 35% das vagas seriam preenchidas pelos estudantes de escolas públicas. Só em 2016 é que as vagas reservadas por cotas chegariam aos 50%.
Esse programa é igual ao das universidades federais? Li em algum lugar que as federais também têm cotas.
É parecido, mas não é igual. Nos dois casos, os alunos de escolas públicas têm metade das vagas reservadas. Mas, no caso de São Paulo, eles precisam ser selecionados por uma prova. Pode ser o Enem ou o Saresp (que é um tipo de Enem, mas só do estado de São Paulo).
Não quero ser chato, mas o ensino da escola pública não é muito ruim?
Na maioria dos casos, é mesmo. Mas essa proposta tem uma ideia boa: ao invés de já começar a assistir as aulas do curso que escolheu, os alunos cotistas vão participar de um curso preparatório de dois anos antes de escolher para qual área vão.
Bom, mas se a ideia é boa, porque está todo mundo criticando?
Verdade, os próprios professores estão infelizes com o programa. Tem gente que acha que o curso preparatório vai separar os alunos cotistas do resto da universidade. E isso tem um porquê: esse curso é feito à distância, pela internet. Só depois de dois anos é que esse pessoal começaria a frequentar a USP de verdade. Ou seja, eles não seriam como os alunos “comuns”. Todo mundo que já frequentou a universidade ou a escola sabe que isso é ruim, porque você não convive muito com seus colegas e professores.
Qual é a outra crítica?
A de que o dinheiro gasto nesse curso vai fazer falta para os pesquisadores das universidades. Talvez isso seja verdade. Do jeito que está, já falta dinheiro. Quem pesquisa, sabe bem. Mas, olha, não deveria ser uma desculpa. As cotas são necessárias e esse curso vai preparar os alunos novos. Porque eles também serão os pesquisadores do futuro.
E o governo de São Paulo vai impor esse projeto?
Não. Ele tem que ser aprovado por cada universidade para ser implementado.
Cota não é injusto?
Eu não acho. Acho mais injusto que só quem é rico e pode pagar por escolas caras possa entrar na universidade. Claro que o ensino público é muito ruim e esses alunos podem não estar no mesmo nível dos outros alunos. Mas se nada for feito, essa situação não vai mudar nunca. Por isso, o curso pode ser uma boa ideia, desde que não exclua os alunos novos da vida das universidades. E também é bom pensar que universidades particulares americanas costumam dar bolsas de estudo a alunos de minorias, como latinos, asiáticos e também a alunos selecionados por critérios sociais. Seguindo essa lógica, é melhor garantir que vários tipos de pessoas convivam e estudem juntas do que todos os anos ter pessoas da mesma classe social e mesma origem.