Boicote à carne e desculpas: o que está acontecendo?
O Carrefour comprou uma briga feia com o Brasil. Tudo começou quando a matriz francesa do supermercado anunciou que suspenderia a compra de carnes do Mercosul, alegando preocupações sanitárias e ambientais. Mas esse movimento tem um contexto maior: os agricultores franceses estão pressionando o governo de Emmanuel Macron contra o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, acusando-o de gerar “concorrência desleal”.
No Brasil, a reação foi imediata. Gigantes como JBS e Minerva Foods cortaram o fornecimento de carne para as lojas do Carrefour no país e exigiram um pedido de desculpas público. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, também se manifestou, classificando a decisão como “absurda”. Ele destacou que a França estaria usando a qualidade da carne brasileira como pretexto para proteger seus próprios agricultores.
Uma crise com cara de política internacional
O acordo entre o Mercosul e a União Europeia, firmado em 2019, está prestes a ser implementado. Porém, o presidente francês, Emmanuel Macron, enfrenta forte pressão de agricultores locais, que temem perder espaço no mercado global. Para tentar apaziguar os ânimos internos, Macron apertou as negociações com o Mercosul, colocando o Carrefour no meio do fogo cruzado.
Mesmo com a crise, nesta terça-feira (26), o Grupo Carrefour Global emitiu uma nota afirmando reconhecer a “grande qualidade” das carnes brasileiras e garantindo que as redes de supermercados do Brasil continuarão comprando de fornecedores locais. Contudo, reforçou que quase 100% da carne vendida na França continuará vindo de pecuaristas franceses.
O Ministério da Agricultura confirmou o recebimento de uma carta assinada pelo CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, com um pedido formal de desculpas. Porém, o impacto da decisão da matriz francesa já causou estragos por aqui.
Boicote no Brasil e debate global
Enquanto a matriz francesa tenta minimizar a situação, o boicote ao Carrefour no Brasil ganhou força. A Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares de São Paulo (Fhoresp) pediu que seus associados parassem de comprar das redes Carrefour, Atacadão e Sam’s Club. O Carrefour Brasil, por sua vez, assegurou que segue comprando carne de produtores locais e lamentou os desdobramentos da decisão da matriz.
Essa briga não é apenas sobre carne. O debate por trás dessa crise envolve tensões comerciais e sustentabilidade global. O Brasil, um dos maiores exportadores de carne do mundo, enfrenta resistência internacional por causa de questões ambientais. De acordo com o Observatório do Clima, 74% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil vêm da produção de alimentos.
O que está em jogo
Esse conflito vai além do churrasco do fim de semana. Ele é um reflexo das tensões comerciais e das disputas em torno de políticas de sustentabilidade no mercado global. Fica a dúvida: como o Brasil vai reagir e se posicionar no cenário internacional daqui para frente?