Finalmente vão acontecer as eleições nos Estados Unidos, né? Parecia que esse dia nunca ia chegar. Me explica: lá funciona como no Brasil?

Não, as eleições presidenciais nos EUA são bem diferentes. Em primeiro lugar, você já sabe, os candidatos dos partidos republicano e democrata são escolhidos em eleições primárias, que começaram no ano passado e só terminaram em 2016. Mas tem mais.

Certo. E lá tem primeiro e segundo turno, né?

Não. Nos EUA, só existe um turno. Amanhã (8/11) é o dia em que será definido o nome do próximo governante do país.

Nossa, eu não sabia. Me diz uma coisa: eu achava que só a Hillary Clinton e o Donald Trump eram candidatos, mas vi que tem mais dois. Por que isso? Não eram só dois partidos lá?

Na prática, os EUA têm apenas dois partidos que são competitivos nas eleições: o republicano e o democrata. Mas outros partidos existem e podem concorrer. E, sim, em 2016 existem outros três candidatos à presidência: Jill Stein (Partido Verde), Gary Johson (Partido Libertário) e Evan McMullin (independente)*. Mas as votações desses candidatos são sempre muito pequenas.

Interessante. E o vencedor é quem tem o maior número de votos, né? Como aqui.

Não. Essa é um das coisas mais confusas a respeito da eleição americana. Lá, o presidente não é eleito pela maior número de votos somando-se todos os eleitores do país. Existe um sistema chamado colégio eleitoral, que é o que determina quem vai ganhar.

Calma: você está me dizendo que um presidente pode ser eleito sem ter a maioria dos votos?

Pode sim. Isso é possível porque os estados americanos têm “pesos” diferentes na hora de contar os votos. Para ganhar, o candidato precisa conseguir o maior número de votos dentro desse colégio eleitoral.

Não estou entendendo nada. O que é colégio eleitoral?

É bem confuso mesmo, mas tenha paciência. O colégio eleitoral é um grupo de pessoas que, em cada estado, decide para qual candidato os votos daquele estado vão.

Mas quem decide não são os votos dos eleitores de cada estado? Não estou entendendo. Quem são essas pessoas?

Vamos pensar de outro jeito, então. Cada estado americano tem um peso diferente, calculado de acordo com o tamanho de sua população. Estados com mais gente têm mais peso, como a Califórnia. Estados menores, claro, têm um peso menor. Lembra na escola, quando o professor dizia que a prova tinha, digamos, peso 7 e o trabalho peso 3? Isso queria dizer que a nota da prova era mais importante que a do trabalho, certo? Bom, funciona do mesmo jeito na eleição americana.

Quer dizer que ganha o candidato que conseguir ganhar nos estados com mais gente?

O importante é conseguir o maior número de votos do colégio eleitoral. No total, o número de votos do colégio eleitoral é 538. Para ganhar, o candidato precisa de, pelo menos, 270 desses votos, o que corresponde à maioria. Mas existem padrões de votação que já são conhecidos. Nova York, por exemplo, é quase sempre democrata. Os candidatos acabam se preocupando mais com os chamados “swing states” (“estados que balançam”). Nestes estados, a disputa é muito acirrada e tanto um quanto outro candidato podem ganhar. Por isso, muito dinheiro, tempo e esforço são gastos onde a coisa está mais equilibrada. **

O mapa abaixo mostra os estados americanos e o número de votos do colégio eleitoral que cada um tem

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Nossa, que coisa estranha. Isso quer dizer que um presidente pode ser eleito sem ter a maioria dos votos?

Isso é possível e já aconteceu três vezes na história. George W. Bush foi eleito a primeira vez, em 2000, com menos votos no total, mas com a maioria dos votos do colégio eleitoral.

Ah, entendi. E me explica uma coisa: e como o candidato ganha os votos desse colégio eleitoral nos estados? Isso não entendi como funciona.

Claro, eu ainda não tinha explicado. Em 48 estados, quem tiver mais votos no total leva todos os votos do colégio eleitoral. Em dois estados, o número de votos do colégio eleitoral é determinado de acordo com a proporção que cada candidato teve na votação.

Olha, eu não sabia de tudo isso. É bem diferente. Esse sistema é novo?

Não. As eleições presidenciais nos EUA são assim desde que o país existe.

Ele é melhor ou pior que o nosso sistema?

É difícil avaliar. Ele tem vantagens e desvantagens, assim como o nosso sistema. Uma coisa boa desse sistema é que os estados com a maior população têm um grande peso na eleição. O que parece justo, já que é onde a maioria das pessoas do país vive. Mas isso também pode ser um problema. Os candidatos podem acabar dando atenção demais a esses lugares e se esquecerem dos estados menores.

Lá eles votam com uma urna eletrônica que nem aqui?

Em alguns estados, sim. Em outros, o voto ainda é feito em cédulas de vários tipos. Cada estado tem a liberdade de escolher como vai fazer sua eleição.


Saiba mais:

The Guardian (em inglês): Como o colégio eleitoral dos EUA funciona?

*Corrigido em 7/11 às 14h10
**Atualizado em 7/11 às 15h22

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