Nos últimos dias, muita gente ouviu falar em GLO depois da megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro. A ação, que aconteceu no dia 28 de outubro de 2025, deixou pelo menos 64 pessoas mortas – e já é considerada a mais letal da história do estado.
Mas o que significa essa sigla? O que ela permite? E por que o governo federal hesita em usá-la mesmo diante de tanta violência?
Vamos explicar tudo com calma.
Antes de tudo: o que é GLO?
A sigla GLO quer dizer Garantia da Lei e da Ordem. É um tipo de operação que permite que as Forças Armadas – ou seja, Exército, Marinha e Aeronáutica – atuem em situações de crise como se fossem a polícia.
Mas atenção: isso só acontece de forma provisória, quando a situação foge do controle das forças de segurança convencionais, como as polícias civil e militar.
Durante a GLO, os militares podem fazer patrulhamento, revistas, prisões e garantir a segurança em áreas estratégicas. Eles ganham temporariamente o chamado “poder de polícia”.
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Quando a GLO pode ser usada?
A GLO só pode ser usada em casos extremos, quando o governo reconhece que as forças de segurança tradicionais não estão dando conta.
É como se o sistema dissesse: “não conseguimos mais garantir a ordem sozinhos”. A partir daí, entra o apoio das Forças Armadas.
Quem decide se a GLO será usada é o presidente da República. Ele pode tomar a decisão sozinho ou atender a um pedido de um governador ou dos chefes do Legislativo ou Judiciário.
O que muda com a GLO?
Durante a GLO, os militares ganham o direito de agir como se fossem policiais.
Eles podem:
- Fazer rondas nas ruas;
- Revistar pessoas e veículos;
- Prender suspeitos;
- Assumir o controle de áreas onde a segurança pública está em colapso.
O presidente também define:
- Onde exatamente os militares vão atuar;
- Por quanto tempo a operação vai durar;
- Quais serão as regras de engajamento (ou seja, o que podem ou não fazer).
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O Brasil já usou isso antes?
Sim. E muitas vezes. Só entre 1992 e 2020 foram mais de 140 ações com base na GLO. Em média, cinco por ano nos últimos 30 anos.
Exemplos de quando a GLO foi usada:
- Grandes eventos: Rio+20 (2012), visita do Papa (2013), Copa do Mundo (2014), Olimpíadas do Rio (2016), G20 (2024).
- Crises de segurança: greves policiais, bloqueios de caminhoneiros, operações em favelas do Rio, crise de segurança no Espírito Santo e Rio Grande do Norte.
- Infraestrutura estratégica: portos, aeroportos e áreas sensíveis ao crime organizado.
O estado do Rio de Janeiro é o campeão de GLOs no Brasil: já foram 31 operações no total.
O governo pode usar GLO agora no Rio?
Sim, tecnicamente pode. Mas há um impasse político e jurídico.
Apesar da operação policial ter sido a mais letal da história recente do Rio, o governo federal resiste a decretar uma GLO agora.
Por quê?
- Clima político delicado: O governo Lula acredita que colocar as Forças Armadas nas ruas pode:
- Aumentar ainda mais a violência;
- Passar a imagem de que o Brasil está em guerra;
- Trazer um alto custo simbólico e humanitário.
- Requisitos legais não foram cumpridos:
- Para a GLO ser decretada, o governador do estado (neste caso, Cláudio Castro) precisaria reconhecer formalmente que as forças de segurança do Rio falharam.
- Segundo o ministro da Justiça, isso não aconteceu até agora.
- Conflito entre os governos estadual e federal:
- Castro disse que pediu apoio do Exército três vezes e foi ignorado.
- O Ministério da Defesa respondeu que não pode emprestar tanques ou soldados sem um decreto oficial de GLO.
- A Advocacia-Geral da União (AGU) reforçou essa posição com um parecer jurídico.
Então o que acontece agora?
Por enquanto, a situação permanece em aberto.
Vale lembrar que o governo do Rio já vinha discutindo, desde julho, a possibilidade de usar a GLO como parte de um plano maior de retomada de territórios dominados pelo crime.
Esse plano deveria ser apresentado oficialmente ao governo federal em outubro – justamente o mês da megaoperação.
Por que esse debate é tão importante?
Porque estamos falando de militares nas ruas, com licença para agir como polícia, em áreas urbanas onde vivem milhões de pessoas. Isso levanta uma série de questões éticas, políticas e de direitos humanos.
Além disso, existe um histórico de GLOs no Brasil que, em muitos casos, não resolveram os problemas de segurança – e ainda resultaram em violações e abusos.
Para resumir:
🪖 GLO é um tipo de operação que permite o uso das Forças Armadas na segurança pública.
📜 Só pode ser usada quando a polícia “não dá mais conta”.
👨✈️ Depende de um decreto presidencial.
🚫 No caso atual do Rio, o governo federal ainda não decretou GLO, alegando riscos humanitários e políticos.
🔁 O debate continua, e a pressão só aumenta.
4 links para saber mais:
- G1 — Entenda o que é GLO e por que o termo voltou a ser discutido após operação no RJ
- CNN Brasil — O que é GLO e quando o presidente pode usá-la
- Agência Brasil — Saiba o que é GLO, que autoriza uso das Forças Armadas na segurança
- CartaCapital — Por que o governo Lula resiste a decretar GLO no Rio de Janeiro
- Estadão — Levantamento: Brasil teve mais de 140 GLOs desde 1992