Quando começou a ser ventilada a pressão exercida por líderes do partido democrata para que Joe Biden desistisse de ser candidato à presidência, apareceram análises diagnosticando um suposto “racha”. Mas não foi isso o que se viu nos dias seguintes à desistência do atual presidente dos EUA. Biden rapidamente declarou seu apoio à vice, cerca de vinte minutos após anunciar que não iria mais concorrer. Diversos líderes do alto escalão do partido, dentre eles, possíveis concorrentes de Kamala Harris, rapidamente declararam seu apoio à vice.

Doações de campanha foram feitas com uma rapidez poucas vezes vista na história das campanhas americanas. E, de um dia para o outro, a equipe de Biden se tornou a de Harris. Se alguém ainda tinha a pretensão de desafiar a ex-senadora, essas chances evaporaram em questão de horas.

Além disso, Harris já conseguiu o apoio informal de um número suficiente de representantes para ser nomeada a candidata do partido na convenção oficial, que acontece no mês que bem.

Posso estar enganado, mas isso não me parecem os movimentos de um partido “rachado”. A rapidez e a surpresa foram tão grandes que até o partido republicano foi pego despreparado.

O melhor que o vice de Trump, J.D. Vance, conseguiu produzir em uma entrevista a Tucker Carlson, um dos propagandistas oficiais do ex-presidente, foi dizer que Harris não se importa com o futuro dos Estados Unidos porque não teve filhos.

É questão de tempo até que a campanha de Trump encontre as mensagens mais eficazes para seu eleitorado, mas esse titubear mostra que o movimento orquestrado pelo partido democrata realmente não era esperado por ninguém.

Verdade que em pesquisas anteriores, Harris aparece perdendo para Trump, inclusive em estados-chave para ganhar a eleição americana, que é indireta. Mas é preciso considerar que antes ela uma possibilidade remota e que despertava pouco interesse dos eleitores.

A partir de agora, assumindo o holofote da campanha, a vice-presidente poderá se expor mais e tentar herdar os votos que iriam para Joe Biden. Uma pesquisa divulgada nesta terça (23) já mostra Harris a frente de Trump, embora seja por pouco e dentro da margem de erro.

Kamala Harris pode surpreender os eleitores


Numa edição recente do The Daily, podcast no New York Times, o repórter Reid J. Epstein, explica que Harris pode surpreender ainda mais. Segundo ele, a vice evoluiu muito como política nos últimos anos e pode agradar a eleitores que ficaram com uma má impressão dela na campanha primária de 2019, que foi um fracasso.

A moral da história até aqui é: parece altamente improvável que o partido democrata estivesse “rachado”. Embora Joe Biden tenha demorado para desistir da candidatura, toda avalanche que veio depois disso foi muito bem desenhada e executada. E isso é algo que só uma operação política com coordenação máxima consegue fazer.
Kamala Harris tem o partido democrata nas mãos. Se isso será o suficiente para vencer Trump, é outra história.

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