
Nos últimos meses, a relação entre Brasil e Estados Unidos passou por reviravoltas que pareciam impossíveis. Donald Trump e Lula se encontraram pessoalmente na Malásia, em outubro, num clima tão cordial que surpreendeu até os analistas mais céticos.
Mas calma: muita água rolou até aqui — e ainda tem muita negociação pela frente. Vamos por partes.
Trump e Lula chegaram mesmo a um acordo?
Ainda não.
A reunião dos dois, no dia 26 de outubro, durou cerca de 45 minutos. Foi considerada positiva, mas nenhum acordo foi assinado.
O que aconteceu de concreto: Trump concordou em abrir negociações bilaterais imediatas para discutir as tarifas de 50% que os EUA aplicaram sobre produtos brasileiros desde agosto. As delegações já começaram a conversar logo depois do encontro.
Lula saiu otimista: disse que Trump “garantiu” que vai ter acordo — e “mais rápido do que muita gente pensa”. Trump foi mais cauteloso: disse que foi uma “boa reunião”, mas que não sabe “se algo vai acontecer”.
👉 Situação agora: as tarifas continuam em vigor.
O Brasil quer suspendê-las enquanto as negociações avançam, mas os EUA ainda não aceitaram. As equipes técnicas voltam a se reunir nas próximas semanas, em Washington.
Siga a gente nas redes!
📸 Instagram | 🎥 YouTube | 🎵 TikTok | 💬 WhatsApp
Por que Trump mudou de postura com Lula?
Essa é, talvez, a maior virada de roteiro da política recente.
Durante anos, Trump foi um aliado declarado de Jair Bolsonaro — chegou a chamar o julgamento dele no STF de “caça às bruxas” e escreveu uma carta criticando o governo brasileiro por “perseguir” o ex-presidente.
Mas o vento virou. E três coisas explicam essa mudança:
1️⃣ Pragmatismo: Trump é movido por negócios, não por ideologia. Quando viu que as tarifas estavam prejudicando os EUA (e não dobrando o Brasil), ele mudou de tom. As exportações brasileiras para os EUA caíram 18,5%, mas o Brasil cresceu 4,5% no total. O recado foi claro: a pressão não funcionou.
2️⃣ Bolsonaro perdeu força: condenado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe, ele deixou de ser “ativo político” e virou “passado”. Como Lula resumiu depois da reunião: “Trump sabe que rei morto, rei posto.”
3️⃣ Clima novo: durante o encontro, Trump evitou falar de Bolsonaro. Quando jornalistas perguntaram, respondeu apenas: “None of your business” (“não é da sua conta”).
Quem trouxe o assunto foi Lula, que lembrou que o julgamento teve “provas contundentes”.
Receba nossos textos no seu e-mail: é de graça!
Lula e Trump são amigos agora?
Nem de longe. Mas estabeleceram uma relação de trabalho pragmática e respeitosa e isso, vindo de Trump, já é muito.
A aproximação seguiu três passos:
1. Diplomacia persistente: o governo brasileiro preferiu negociar em vez de revidar. Alckmin e Haddad costuraram conversas com autoridades americanas e conseguiram ampliar a lista de produtos isentos.
2. Argumento econômico: Lula mostrou que o comércio entre os dois países favorece os EUA; ou seja, as tarifas não faziam sentido nem do ponto de vista técnico.
3. Timing político: ambos precisavam de resultados. Lula enfrenta pressão da indústria brasileira, e Trump sofre críticas internas pela inflação e pelo impacto das tarifas nos aliados dos EUA.
Durante a reunião, Lula contou que os dois abriram uma linha direta de comunicação:
“Toda vez que tiver dificuldade, eu ligo pra ele. Ele tem o meu telefone e eu tenho o dele.”
Especialistas viram o encontro como uma “tremenda vitória” política de Lula, um movimento que, segundo o cientista político Hussein Kalout, “enterra a influência do bolsonarismo junto à Casa Branca”.
As tarifas foram retiradas? Tá tudo resolvido?
Ainda não. As tarifas de 50% seguem ativas desde agosto e afetam cerca de um terço das exportações brasileiras para os EUA.
O que vem agora:
- As equipes dos dois países criaram um cronograma de reuniões setoriais.
- Uma “tropa de choque”, com Haddad, Mauro Vieira e Alckmin, deve embarcar para Washington nos próximos dias.
- O Brasil trabalha em duas frentes: suspender as tarifas temporariamente e ampliar a lista de produtos isentos (como café, carne, aviões e pescados).
O professor Matias Spektor, da FGV, resume:
“Vai levar meses, mas a direção é muito positiva para o Brasil.”
Em resumo
Trump e Lula ainda não fecharam um acordo, mas abriram uma porta importante. O “tarifaço” segue de pé e a negociação deve ser longa. O que realmente mudou foi o clima: saiu o confronto, entrou o pragmatismo. E, no mundo da diplomacia, isso já é meio caminho andado.
📚 Pra se aprofundar no caso Trump x Lula
- Lula demonstra otimismo, e Trump adota cautela sobre acordo —
A DW Brasil mostra o contraste entre o entusiasmo de Lula e a postura calculada de Trump após o encontro na Malásia. - Reunião entre Lula e Trump: os próximos passos nas negociações —
O G1 detalha o que foi combinado até agora e o que ainda está travando as conversas sobre o fim das tarifas. - Reunião com Trump foi “tremenda vitória” de Lula, mas não garante fim do tarifaço —
Análise do Terra com o cientista político Hussein Kalout sobre o impacto político do encontro e o que isso muda na relação Brasil–EUA. - Análise: Trump e Lula indicam urgência nas tratativas —
Comentário do professor Matias Spektor (FGV) sobre a importância estratégica da negociação e os possíveis desdobramentos econômicos.